Aproveite o melhor do sol
A Dra. Rossana Vasconcelos tira importantes dúvidas sobre o tema
Temperaturas batendo recordes em todo o país, sensação térmica próxima dos 50 graus, no Rio e no nordeste. Sol a pino. E um convite irresistível para passar horas na praia ou na piscina, debaixo dele – o rei Sol. Aproveitar o melhor do verão e ao mesmo tempo se proteger dos efeitos nocivos do sol – como o envelhecimento precoce e o câncer de pele - é um desafio que se renova a cada ano. Para obter o melhor do sol, é preciso seguir uma espécie de bula de cuidados básicos. Quando usar protetor? De que tipo? Quem deve tomar mais cuidado com a radiação solar? Qual é o melhor e o pior da radiação solar? Quem responde a essas perguntas é a Dra. Rossana Vasconcelos, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, professora do Departamento de Dermatologia da Universidade Santo Amaro e médica do Departamento de Dermatologia do Hospital Santa Catarina
Os dermatologistas costumam recomendar o uso de filtro solar até em dias nublados ou chuvosos. É excesso de precaução ou esse cuidado realmente se justifica?
Esse cuidado é importante, já que em dias nublados também há grande penetração dos raios ultravioleta. A presença de água na atmosfera não impede a passagem da radiação UV - retém apenas 10% desta radiação. A intensidade com que as radiações atingem a nossa pele depende de vários fatores, como comprimento da onda da radiação, da estação do ano, da latitude, do horário, das barreiras atmosféricas, da altitude, da poluição e da quantidade e tipos de nuvens, atravessando-as e passando inclusive pelas roupas, dependendo da cor e tecido.
Os FPS – o chamado Fator de Proteção Solar - chegam hoje até 70 em alguns produtos. E, quanto mais alto o FPS, mais caro o produto. Alguns especialistas sustentam que acima de 40 ou 50 o benefício da proteção extra não compensa a diferença de preço. Qual é a sua opinião?
Já existem produtos com FPS 90 e até 100, indicados para pessoas totalmente intolerantes ao sol ou que possuem alguma patologia ou propensão a desenvolver câncer, manchas ou outras formas de pigmentação na pele. O número de FPS indica quantas vezes a mais uma pessoa pode ficar ao sol com o protetor solar antes de começar a queimar, em comparação com o tempo que poderia ficar ao sol, sem usar nenhum protetor solar, antes de começar a queimar. O FPS se refere apenas à proteção em relação ao UVB, sendo que hoje já se sabe que o UVA também é importante no desenvolvimento do câncer de pele e no fotoenvelhecimento, embora não haja consenso sobre a metodologia ideal para se determinar o grau de proteção UVA. Portanto, o protetor solar ideal deve ser de amplo espectro com proteção UVA e UVB. O FPS é importante e a sua escolha varia com o tipo de pele. Em pacientes com pele mais clara, antecedentes de queimaduras solares, câncer de pele e doenças relacionadas à luz, o FPS deve ser próximo a 50. E na presença de algumas doenças de pele, como o melasma, aquelas manchas acastanhadas geralmente localizadas na face, se recomenda inclusive o uso de protetores como base. Considerando todas essas variáveis, o ideal é o FPS ser escolhido individualmente, mas recomenda-se hoje um mínimo de FPS 15 a 30.
Sendo cumulativo o efeito dos raios solares, há lógica em dizer que a fotoproteção é mais eficiente nos primeiros anos de vida? Crianças, aliás, merecem proteção extra?
É essencial proteger as crianças, já que por volta de 75% da exposição solar de uma pessoa ocorre até os 20 anos e crianças geralmente apresentam exposição solar média três vezes maior do que os adultos, por ficarem mais tempo em atividades ao ar livre. É possível, portanto, reduzir os riscos de câncer de pele, iniciando-se a fotoproteção na infância. A escolha do protetor solar deve ser acompanhada da indicação de um dermatologista, já que a pele da criança é delicada e pode ter maior absorção de ativos, sendo recomendado em determinada fase o uso de protetores apenas físicos, como chapéus e roupas.
A recomendação de renovar o uso do filtro solar a cada duas horas, quando em exposição ao sol, é válida mesmo se a pessoa não entrar na água?
O protetor deve ser utilizado a cada duas horas fora da água, e no caso de entrar na água ou transpiração, ele deve ser aplicado com maior frequência, em média a cada 40 minutos. Lembrando que o ideal é passar o protetor 30 minutos antes da exposição solar.
Do ponto de vista prático, em períodos de férias, a recomendação de só pegar os primeiros raios de sol da manhã ou os últimos da tarde não é inviável? Ninguém sai da praia em dia de sol às 10 da manhã para só voltar às 4 da tarde...
O ideal mesmo seria evitar a exposição nesses horários, já que o UVB é menos retido nesse período. Mas se a exposição for inevitável, deve-se tentar ficar na sombra com proteção física, que inclui o uso de chapéu, óculos e barracas.
Depois da praia ou da piscina, que produtos você recomenda depois do banho?
O uso de produtos que contenham hidratantes com vitamina E, C e Aloe, para restaurar a pele.
Câncer de pele: os tumores mais sensíveis à radiação solar são os melanomas ou os não-melanomas?
Os chamados não-melanomas estão mais associados à exposição solar acumulativa e a indivíduos de pele clara – entre esses tumores, destacam-se o carcinoma basocelullar (CBC), e o carcinoma espinocelular (CEC), que também tem relação com tabagismo, imunidade, exposição ao arsênico e alcatrão. Jà o melanoma tem mais correlação com a exposição esporádica aos raios ultravioleta e com a genética, podendo também atingir orientais e indivíduos de pele negra.
Quais são os sinais de alerta de um e de outro?
No caso do câncer de pele não-melanoma, deve se desconfiar de áreas de pele avermelhada, brilhante, acastanhada com ou sem elevação, da presença de feridas que não cicatrizam ou lesões iniciais chamadas pré-malignas, como as queratoses actínicas, que muitas vezes passam desapercebidas como áreas avermelhadas com crostas ou descamação. Tratadas precocemente, essas lesões não evoluem para câncer de pele.
Quanto ao melanoma, a suspeita são pintas com alteração da cor, tamanho, assimetria, irregularidade da borda e sintomas como coceira, sangramento ou ferida. Na consulta com o dermatologista, tudo isso pode ser avaliado com o uso de um instrumento chamado dermatoscópio.
O bronzeamento artificial sempre esteve na berlinda - mas continua muito popular entre nós. Agora, a ANVISA quer proibir a técnica no Brasil. O que você acha?
O bronzeamento artificial é obtido através de câmaras de exposição à radiação UVA. Pacientes são expostos por altas doses de UVA, mais do que normalmente recebe no dia-a-dia. Reações precoces, como as queimaduras, não costumam acontecer, mas o fotoenvelhecimento e o câncer da pele serão facilitados ou observados tempos depois. Por isso, não recomendo o uso dessa técnica.
Uma pessoa que recebe o diagnóstico de câncer de pele costuma mudar sua relação com o sol?
A maior parte das pessoas muda sua relação com o sol, mas criam a ideia errada que não surgirão novos tumores por elas estarem se protegendo. Porém, a chance de um novo tumor aumenta muito após o primeiro e grande parte do estrago causado pelo ultravioleta já foi feito. Então é importante manter a proteção, a vigilância e as consultas ao dermatologista para o diagnóstico e tratamento precoce, que é curativo.
Sua opinião como dermatologista e como mulher: pele bronzeada é sinal de beleza?
Acredito que esse conceito funciona mais ou menos como a moda. Na antiguidade, admirava-se a pele branca como sinal de nobreza. Na década de 30, houve uma inversão, que se intensificou na década de 80, na qual a tez branca era associada à falta de saúde. Hoje, com os conhecimentos atuais e as gerações que já nasceram sob uso do protetor solar, o padrão está mudando. Na minha opinião, a beleza está na natureza de cada um. Não adianta pessoas claras quererem ser bronzeadas – elas só ganharão queimaduras, manchas, envelhecimento ou até mesmo um câncer de pele na tentativa de um bronzeado, que, se acontecer, irá durar pouco tempo. Cada um tem que aceitar o tipo de pele que tem. Adotando os cuidados certos para se manter saudável, terá uma pele bonita – garantia de beleza individual.
Fonte: ABCFARMA