De olho no Brasil
Crescimento da economia e expansão do segmento farmacêutico fazem Multinacionais enxergarem oportunidades de lucro em terras brasileiras.
O ano de 2009 foi de aquisições para a indústria farmacêutica em todo o mundo. No Brasil, empresas do setor foram adquiridas por gigantes multinacionais. A francesa Sanofi-Aventis comprou a líder brasileira de genéricos Medley, a distribuidora alemã Celesio adquiriu participação majoritária da Panpharma, o laboratório goiano Neo Química está em vias de compra pela norte-americana Pfizer e a japonesa Astellas vai abrir subsidiária no país.
O Brasil é reconhecido globalmente como um importante mercado para a indústria da saúde, com previsão de crescimento do segmento farmacêutico entre 13% e 16% ao ano, até 2013. A expectativa não é por acaso. Os genéricos, por exemplo, movimentaram R$ 289 milhões no segundo trimestre deste ano. Já o setor de distribuição atingiu um faturamento de R$ 3,98 bilhões no mesmo período – conforme dados da Associação Brasileira do Atacado Farmacêutico (Abafarma).
Depois da aquisição da Medley, no último mês de abril, um negócio de R$ 1,5 bilhão, a Sanofi-Aventis ainda vê possibilidade de aquisições no país, conforme noticiou recentemente um dos principais jornais de São Paulo. Com participação de 11,1% no mercado, a companhia se tornou a maior empresa farmacêutica do Brasil e já anunciou a instalação de uma nova fábrica no pólo industrial de Brasília, com investimento de US$ 45 milhões, e previsão de inauguração em 2012. No total, a empresa planeja investir no país US$ 100 milhões nos três primeiros anos. Com faturamento de R$ 3,278 bilhões no ano passado, o laboratório no Brasil emprega 4 mil pessoas e também planeja a ampliação das atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil.
No setor de distribuição, a maior distribuidora de medicamentos da Europa, a companhia alemã Celesio, anuncio a compra de uma participação majoritária na empresa líder neste segmento no Brasil, a Panpharma – donas das empresas Panarello, American Farma e Sudeste Farma - que registrou vendas de R$ 3 milhões em 2008. A moeda estabilizada e a população preocupada com a qualidade de vida e a saúde, foram os principais motivos que fizeram a Celesio visualizar as oportunidades no Brasil.
A Pfizer e a Neo Química permanecem em fase de negociação, que gira em torno de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão. A estratégia da Pfizer pode ser a de compensar o vencimento das patentes de medicamentos como o Lípitor e o Viagra, indicados para controle do colesterol e disfunção erétil, respectivamente. Ao comprar a Neo Química, o laboratório amplia o seu faturamento global e pode se antecipar no lançamento de genéricos para os dois medicamentos.
Com sede em Tóquio, a Astellas, segunda maior farmacêutica do Japão, vai iniciar suas atividades na América Latina por meio de uma subsidiária no Brasil. A chegada da empresa, que fatura anualmente cerca de US$ 10 bilhões, deve gerar 60 empregos. Segundo executivos da Astellas, o Brasil chamou atenção pelas suas taxas de crescimento e vendas superiores a US$ 19 bilhões, que fazem do mercado farmacêutico brasileiro o nono maior do mundo.
No Brasil – As movimentações do setor também se deram entre empresas brasileiras. O laboratório farmacêutico Farmoquímica, instalado no Rio de Janeiro e pertencente ao Grupo FQM, comprou o Herbarium Laboratório Botânico, no último mês de setembro. Com a aquisição da indústria paranaense líder em fitoterápicos no Brasil, o Grupo FQM espera posicionar-se como um dos 15 maiores em vendas de produtos éticos (prescrição médica), manter a liderança em fitoterápicos no Brasil e expandir a atuação do Herbarium no mercado internacional. Ainda este ano, o faturamento do Herbarium deve alcançar os 70 milhões de reais.
Agora em outubro foi a vez da Hypermarcas desembolsar US$ 208 milhões para a compra das operações da Jontex, da Johnson & Johnson, e da Olla, da empresa Inal, ambas as marcas de preservativos. No início do mês, a empresa de bens de consumo também anunciou acordo para comprar a Pom Pom e suas subsidiárias por R$ 300 milhões. A transação marca a entrada do grupo no setor de produtos descartáveis de higiene pessoal.
As aquisições de empresas brasileiras por multinacionais prometem fortalecer o setor farmacêutico e trazer investimentos para o Brasil, mas será que o potencial brasileiro não estaria sendo consumido por empresas estrangeiras? Talvez, ainda esteja cedo para afirmar, mas tomando como exemplo o modelo dos países desenvolvidos, que possuem indústrias farmacêuticas fortes, vale refletir sobre a condição do Brasil, que, cada vez mais consolidado no setor, deixa passar a oportunidade de investir numa multinacional brasileira, que possa concorrer nos Estados Unidos e na Europa.