Na Contramão
A sociedade está sempre em busca de evolução, de formas mais práticas, rápidas e cômodas de resolver as tarefas do dia-a-dia. Não só porque esta é uma característica do ser humano, mas porque a rotina das pessoas acelerou. Depois de conquistar espaço no mercado de trabalho, as mulheres correm entre as tarefas profissionais e do lar, ao trabalho se dedicam mais horas e como se não bastasse, a população cresceu, as filas aumentaram e o trânsito... Ah, o trânsito... feliz aquele que não precisa enfrentá-lo.
Para resolver tantos contratempos, diminuir as distâncias e facilitar a rotina surgiu a internet, por onde é possível pagar contas, fazer compras e mais uma infinidade de coisas; o serviço delivery – que dispensa comentários; e, entre outras possibilidades, a junção de alguns serviços em um só lugar. Por exemplo, em um posto de gasolina é possível adquirir revistas, pilhas, alimentos e outras mercadorias na loja de conveniência; no supermercado o consumidor se depara com farmácias; e os shoppings oferecem berçários e até lojas de animais.
Agregar serviços é beneficiar, principalmente, o cliente. Mas, na contramão de tudo isto, a Agência de Vigilância Sanitária surgiu com a Resolução 44/09, em agosto do ano passado, que proíbe farmácias de venderem artigos diversos, exige que se coloque atrás do balcão mesmo os medicamentos sem prescrição médica e impede estes estabelecimentos de funcionarem como correspondentes bancários.
Pagar contas nas farmácias, portanto, nem pensar - mesmo que em seu município não exista outro lugar para fazê-lo. Comprar água ou um cartão telefônico também estão proibidos, de acordo com a RDC da Anvisa, mesmo se o supermercado mais próximo estiver após três bairros ou se já estiver fechado. Farmácias existem em todo lugar, não têm filas a perder de vista e funcionam em horário especial, mas ninguém, da Agência Reguladora, parece perceber isto.
Felizmente, a Resolução, que deveria estar vigorando desde o mês passado, está suspensa para quase 90% dos estabelecimentos graças às liminares conseguidas na Justiça pelas principais entidades representativas do setor – a Febrafar, a ABCFarma, a Abrafarma, além de outras – o que reforça, mais uma vez, a importância, a legitimidade e a força desta representatividade para as farmácias e drogarias do país.
O consumidor, que em inúmeras pesquisas foi a favor da diversificação de produtos, pode – não sabemos até quando – continuar a desfrutar de um mix de mercadorias e serviços oferecidos por farmácias e drogarias. O bom-senso prevaleceu, mas a Anvisa – mesmo sendo inconstitucional - continua a insistir para que seja revista a decisão. A Agência quer regular, pois, então, fica a dica: contrabando, falsificação e venda de medicamentos controlados sem receita. Tem aí trabalho para o ano inteiro.