Vote Consciente
As eleições estão cada vez mais próximas e maior do que a dúvida sobre qual candidato vai ocupar a Presidência da República é a incerteza sobre o senso crítico dos eleitores. Os brasileiros estão preparados para votar de forma responsável e consciente nestas eleições? Em um cenário onde comediantes, celebridades instantâneas, esportistas e mulheres conhecidas por suas curvas e poucas roupas se candidatam sem nenhum embasamento político e, o pior, o voto se conquista com o pagamento de uma conta de luz, vale o benefício imediato e egoísta - proporcionado a um único indivíduo, e os cidadãos ainda se esquecem dos nomes envolvidos nos maiores escândalos políticos, essa é, sem dúvida, mais do que uma grande preocupação. É a possibilidade de se vê repetir os sucessivos escândalos e a falta de investimento nas necessidades mais básicas e urgentes da população. Sobre estas e outras questões, o Presidente da Rede de Farmácias Multmais, Roberto Brasileiro Lima, deu uma entrevista ao Portal Multmais. Confira abaixo.
À frente da Rede Multmais e do Sindicato do Comércio de Produtos Farmacêuticos do Estado da Bahia, você está acostumado à liderança e a pensar estratégias e ações em benefício de uma coletividade. Qual é, em sua opinião, a fórmula para desempenhar uma boa administração?
Em qualquer circunstância, a principal diretriz deve ser a da transparência. Não é fácil atender aos anseios de todos, por mais que procuremos ir direto às questões que afligem o setor. No caso do Sindicato e da Multmais são dois tipos diferentes de gestão. Na Multmais o universo é menor. Lidamos com menos pessoas, então, é mais fácil obter apoio e implementar as atividades. Quanto ao Sindicato, é bem diferente. Neste caso, falta o respaldo financeiro, o reconhecimento e a consciência da maioria dos associados, que não enxergam o Sindicato como o único órgão com representatividade nas esferas municipal, estadual e federal – embora existam outras associações atuantes. Sem essa participação não obtemos recursos para garantir, por exemplo, a contratação de advogados para a defesa dos interesses da classe ou mesmo para financiar a participação em reuniões com a CNC e a ABCfarma, que acontecem no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Sem recurso, portanto, fica difícil realizar uma boa administração. Além disso, quando você tem que gerir recursos que não são seus, como é o caso do Governo, você deve dar satisfação aos interessados e procurar resolver os problemas de cada setor.
Com relação aos principais candidatos à Presidência da República – Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva - o Brasil tem chances de eleger um bom presidente?
[Suspiro] É complicado... Quando entra política no meio, a gente nunca sabe. Existem muitos interesses em jogo, então nem sempre as coisas saem como deveriam. No caso do atual Governo, por exemplo, discordo de o partido transformar o assistencialismo em bandeira para eleição. Recebi um e-mail recentemente sobre um projeto que foi feito no Ceará para empregar 500 mulheres na indústria têxtil. Resultado, poucas se inscreveram, pois perderiam o Bolsa Família e outras assistências proporcionadas pelo Governo. Preferiram ficar em casa com um valor menor do que assinar a carteira e ir trabalhar.
Então, você está pessimista com relação aos candidatos?
Bem, se formos considerar o PT – partido da candidata Dilma, que tem a maioria das intenções de voto – vale questionar o que o partido mudou com relação à política anterior de Fernando Henrique Cardoso. O Bolsa Família, por exemplo, foi criado por FHC, o PT só ampliou. Também foi dada continuidade à política econômica e o PAC não atingiu nem 15% do que foi divulgado. Então, acho que tem muito exagero e mentira na propaganda do Governo. Se gasta demais em publicidade – tanto na esfera federal como na estadual e municipal. Boa parte desse recurso poderia ser aplicado em setores de maior retorno para a sociedade.
O Brasil tem um histórico de escândalos políticos, o que denigre a imagem do país e deixa a população incrédula. É possível, em sua opinião, criar mecanismos efetivos de combate à corrupção ou este já é um mal inerente à política?
Acho que devem existir mecanismos de combate à corrupção sim, não tenho dúvidas. O histórico de corrupção não é só do Brasil. Isso acontece em várias partes do mundo. Antes, não tínhamos acesso às informações porque não havia tanta liberdade de imprensa, mas mesmo nos países mais rigorosos há casos de políticos corruptos. No Japão vários ministros já se suicidaram por conta de escândalos descobertos. A diferença é que lá fora há mais rigor, como deveria acontecer no Brasil. Acredito na educação do povo como ferramenta de combate à corrupção. O Brasil, infelizmente, ainda tem muito a caminhar e investir neste setor. A educação pode ser o meio para que cidadãos e políticos tenham mais consciência e deixem para trás essa cultura corrompida de muitos anos.
A saúde foi apontada, pela maioria dos brasileiros, como a primeira preocupação da população. Você concorda com isto? Em sua opinião, como está o sistema de saúde no país?
A situação da saúde no Brasil é publica e notória. Ontem mesmo li um texto que dizia: Eu quero morar na Bahia da propaganda do Governo, onde não tem fila, não faltam médicos e a saúde, transporte, segurança e estradas estão perfeitos. E Lula ainda diz que vai dar conselhos a Obama [Presidente dos Estados Unidos]... Segundo ele, o Sistema de Saúde no Brasil funciona [Risos].
Com relação à indústria farmacêutica, o quê, em sua opinião, deve constar na pauta política?
O ICM [Imposto sobre Circulação de Mercadoria] é muito alto. É a maior carga tributária que incide sobre medicamentos. Podíamos ter redução desse imposto, com certeza, o que também iria baratear o medicamento para a população. Produtos veterinários, por exemplo, têm isenção de impostos. Com isso, o governo favorece principalmente os fazendeiros e grandes indústrias. Já temos muitas despesas embutidas neste setor. O custo Brasil é muito alto.
Se você fosse Presidente da República quais seriam as ações mais urgentes do seu Governo?
É tão amplo, mas, sem dúvida, as ações mais urgentes seriam pensadas em benefício das necessidades básicas, como saúde, educação e segurança - embora eu tenha consciência de que não é fácil. A máquina do Governo é muito cara. O próprio Congresso, o que os deputados e senadores recebem indiretamente, suas mordomias... Tudo isso encarece demais a administração pública. No fim, quem menos ganha oficialmente é o Presidente. Os recursos precisam ser mais bem empregados, portanto.
Para finalizarmos, o que você aconselharia ao eleitor nestas eleições?
Aconselho que eles pensem bem em quem irão votar, não se deixem influenciar pela propaganda superficial e mentirosa que está aí e verifiquem quem realmente é sério e merece ocupar a Presidência da República.
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